Supostos membros da PRM espancados pela população na Matola-Gare após tentativa de fraude
Dois indivíduos identificados pela população como supostos membros das Forças de Defesa e Segurança foram severamente espancados por populares no bairro Sido Ava, na Matola-Gare, província de Maputo, após serem acusados de simular uma transferência móvel como forma de pagamento num estabelecimento de venda de bebidas alcoólicas. O episódio foi amplamente divulgado na manhã de 18 de Abril, durante o programa “6 às 9”, da TV Sucesso, através de uma reportagem.
Segundo a peça televisiva, os homens terão consumido produtos num valor estimado em 3.000 meticais, mas no momento do pagamento, teriam simulado uma transferência via carteira móvel, acto interpretado pelos presentes como tentativa de fraude. A reacção da população foi imediata e violenta, culminando num episódio de justiça popular, com fortes indícios de linchamento.
“Portanto, foram detidos em flagrante delito. Estavam a roubar nesta mercearia, como as imagens podem documentar. Foram brutalmente espancados pela população. Um deles, segundo os populares, é agente da Polícia da República de Moçambique, o outro também aparenta ser militar. Estão visivelmente trémulos após as agressões”, descreveu o repórter Alcides Nuvunga, em directo da cena do incidente.
Os acusados, encontrados em estado de grande debilidade física, apresentaram versões divergentes dos factos. O primeiro, visivelmente confuso, negou qualquer tentativa de burla ou ligação às forças de defesa e segurança:
“Nunca fui identificado como ladrão. Estava a acompanhar um amigo que procurava uma namorada nesta zona. Ele pediu uma garrafa de GIN, uma embalagem de light, tentou pagar, mas o valor aparentemente não entrou. Não sou polícia, nem militar. Sou alfaiate.”
O segundo homem, ferido e com vestígios de sangue visíveis, apresentou-se como agente da PRM afecto ao distrito da Moamba. A sua versão dos factos detalha uma sucessão de eventos que culminaram no mal-entendido:
“Vinha de levar a minha esposa e filhos para casa, quando encontrei estes dois indivíduos. Disseram que precisavam carregar algumas coisas no meu carro e em troca dariam algum valor. Aceitei. Parámos num bar. Pediram bebidas, simularam a transferência, mas a senhora confirmou que o valor não entrou. Depois disso, fomos cercados e agredidos. Fui confundido com ladrão, mas sou agente da PRM em Moamba.”
Questionado pelo jornalista sobre a natureza do acto, afirmou:
“Não se tratou de tentativa de roubo. Apenas houve uma falha na transferência. Eu não faço parte de esquemas ilícitos. Sou polícia, formado e destacado para servir na Moamba.”
A situação, veiculada pela TV Sucesso, reacende a reflexão sobre os limites da acção popular diante de suspeitas criminais, sobretudo quando os envolvidos são ou se fazem passar por elementos das forças de defesa e segurança. Num país onde os relatos de abusos de poder, corrupção e envolvimento de agentes públicos em actos ilícitos são recorrentes, a população demonstra uma crescente intolerância e disposição para agir pelas próprias mãos.
O incidente evidencia ainda a fragilidade da confiança entre cidadãos e instituições, colocando em evidência a erosão do pacto social e a crise de autoridade. As autoridades policiais ainda não se pronunciaram oficialmente, mas espera-se que sejam instaurados processos investigativos formais, que clarifiquem a identidade e a responsabilidade penal de todos os envolvidos, tanto no presumível acto fraudulento quanto na resposta violenta da comunidade
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